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Por Fábio Sanchez
O
livro Novas experiências de gestão pública e cidadania enfrenta
o ceticismo generalizado que impera no país contra administrações públicas.
São explicados detalhadamente no livro projetos que acontecem nos tais
"rincões" do Brasil, iniciativas algumas vezes distantes das capitais
e sempre longe da atenção da mídia. Pois aí, nesses lugares retirados,
há um Brasil eficiente, que produz resultados gigantescos, se guardadas
as proporções do seu público-alvo e de seus empreendedores. São descritas
vinte iniciativas de governos municipais ou estaduais selecionadas em
1999 como finalistas do programa Gestão Pública e Cidadania, uma premiação
conduzida pela Fundação Getúlio Vargas e pela Fundação Ford, com o apoio
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
É muito oportuna essa exposição, pois mostra bons resultados entre os
municípios que estão passando por mudanças grandes e definitivas desde
a constituição de 1988, como a reorganização do sistema de arrecadação,
o fim do financiamento inflacionário, a criação do Fundo de Estabilização
Fiscal (de regras instáveis), a municipalização da educação e da saúde,
as guerras fiscais, a reeleição de prefeitos etc. Quando conseguem a atenção
da mídia para seus problemas, geralmente os prefeitos estão reclamando
de alguma dessas questões. Nesse livro, surge o lado bom dessas mudanças
todas, ou o que se toca apesar delas. E o fato de serem projetos realizados
até por municípios com menos de 4 mil habitantes, como o caso de Urupema
(SC), que protagoniza um programa de desenvolvimento rural sustentável,
mostra que benefícios públicos não precisam custar caro (neste caso, um
orçamento anual de apenas R$ 181 mil).
O
que há de novo nessas experiências? O que elas oferecem ao cenário da
administração pública nacional? O grupo de ações selecionado pelos organizadores
do programa e do livro teve a felicidade de desprezar a hierarquização
natural dos organogramas ou dos orçamentos. Muitos dos projetos descritos
no livro são marginais dentro das suas próprias administrações públicas,
não estão entre as prioridades do secretário ou do prefeito. Foram escolhidos
porque inovam na seleção de parceiros (governos de outras cidades ou do
estado, ou mesmo entidades da sociedade civil), apresentando novas práticas
de gestão que passam longe do assistencialismo.
Destaca-se,
por exemplo, o fato de que na maioria dos projetos os beneficiários são
também seus sujeitos ou executores. Num programa de educação indígena
em São Gabriel da Cachoeira (AM), os próprios índios (90% da população)
surgem como professores ou agentes de saúde. Em outro de educação rural
em Turmalina (MG), no Vale do Jequitinhonha, os alunos atuam como repassadores
de informações para a família e apresentam números promissores: a evasão
escolar diminuiu de 17,4% em 1996 para 2,6% em 1998. Alguns tornam os
próprios beneficiários protagonistas da ação, como o Fundo Municipal de
Aval de Poço Verde (SE), montado para dar suporte a ações de produtores
rurais na obtenção de crédito vantajoso junto a instituições financeiras,
amarrando o benefício não só a proprietários rurais, mas também a seus
parceiros, posseiros e arrendatários.
Também
é interessante a inovação no conteúdo das propostas, como a do Centro
de Atenção Psicossocial (Rio de Janeiro), em que pessoas psicóticas têm
um tratamento sintonizado com as tendências da psiquiatria moderna, reduzindo
drasticamente o número de internações em favor de um tratamento ambulatorial
mais integrado com a comunidade. Outra iniciativa moderna, em gestão,
é a do Programa Sobral Criança, de Sobral (CE), que atua por meio de comitês
não formalizados que reúnem várias entidades da sociedade civil e definem
estratégias de ação diferenciadas ou conjuntas (como ações contra drogas
ou a prostiuição infantil). Com isso, contrariam o que a autora do texto
classifica como clientelismo e inércia da sociedade civil presentes na
gestão pública da cidade até então.
As
ações se mostram de forma didática, com tabelas que expõem planejamentos,
resultados e conclusões. Para quem espera pouco do homem público e das
articulações da sociedade civil no país, o livro é um bálsamo.
Título:
Novas experiências de gestão pública e cidadania
Organizadores: Marta Ferreira Santos Farah e Hélio Batista Barboza
Editora: Editora FGV
293 páginas
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